Em breve, os telespectadores de Pantanal verão Juma lendo um livro inteiro pela primeira vez, e poucos meses depois de começar a ler a escrever com a ajuda de Jove, seu par romântico na novela, numa cena linda. A revelação foi dada pela própria atriz Alanis Guillen, ao vivo, durante nosso encontro no Criança Esperança.
Aliás, foi uma edição de arrecadação recorde, apesar das dificuldades econômicas de boa parte dos brasileiros, o que evidencia um pacto social em torno da urgência de ampliar as oportunidades de formação. Em cada ligação, uma doação de sete, vinte, quarenta reais que, somadas, vão transformar a vida de milhares de crianças e jovens.
Neste mesmo dia, passei algumas horas ao lado de Isabel Teixeira, a brilhante atriz que dá vida à Maria Bruaca. Perguntei como tem sido o retorno, em especial das telespectadoras, ao que a personagem vem mostrando. “Imenso, e vem de várias formas, histórias muito diferentes, mas que se encontram num ponto comum”, me disse. Com a impressionante interpretação de Isabel e de outras grandes mulheres na trama, somadas a um roteiro que dá visibilidade às violências e labirintos emocionais no universo feminino, a novela se tornou um ambiente de acolhimento que extravasa as telas para uma mobilização real a partir das redes sociais.
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Nesta semana, a cena em que Bruaca é acolhida por Filó, depois de ser expulsa de casa pelo marido, o post das atrizes com a cena do episódio, conclamava os seguidores a marcar alguma amiga que estivesse passando por situação parecida: “Quantas mulheres a gente vê ou ouve falar que passaram por uma situação como essa? A mulher chega ao ponto de se sentir totalmente envergonhada, desacreditada e coagida pelos erros que o ex-marido cometeu muito antes e de forma muito pior”, escreveu a incrível Dira Paes. “Somos todas Maria”, respondeu a também atriz Letícia Sabatella. Somos.
O remake da trama de sucesso nos anos 1990 é um espelho de contextos sociais que já eram vividos naquela época – a falta de acesso à educação em regiões mais distantes dos grandes centros, a misoginia e suas violências dentro e fora das áreas rurais – mas hoje, há uma recepção e percepção diferentes por parte do público, que ganha mais consciência de gênero na sociedade e um ambiente virtual engajado que nos aproxima da chance de sermos e formarmos uma comunidade.
Isso é tão potente, quanto necessário e urgente, quando vivemos um momento de tantas disfuncionalidades como país. Pertencer e se ver no outro é fundamental, traz bem-estar, esperança, uma dose extra de força e algum frescor de fé na humanidade. Todas as noites, a novela Pantanal nos apresenta aquela comunidade em evolução, território onde as pessoas se ajudam e se procuram nos momentos difíceis, mesmo sob circunstâncias delicadas e até de rivalidades.
A coluna volta com uma semana de atraso porque estive off para uma semana de férias em Fernando de Noronha, esse arquipélago que, a despeito de evidentes mudanças estruturais, como mais carros e pousadas, se mantém firme na vocação de ser comunidade e comunitária. As pessoas se habitam, e habitam a natureza com respeito, pois se sentem parte dela e entendem que o outro é, em parte, algo de si. Aristóteles, ainda no IV a.C, já dizia que a felicidade, que vem do sentido, só tem um caminho: se partilharmos uma vida em comum, como seres políticos que somos. Então vamos praticar a política que desejamos ver em 2023 depois de outubro.
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Caderno de Moda Brasil.