Angélica trabalha desde os 4 anos. Dos 14 aos 22, à frente de dois programas diários e com a agenda lotada de shows, gravou 20 álbuns. E nunca mais desacelerou. Quando foi surpreendida por uma menopausa precoce, aos 42, se assustou. Estaria essa energia toda perto do fim? Seis anos depois, tem uma vida sexual muito mais prazerosa, novos projetos e pique que não acaba mais.
A seguir, a entrevista completa com a apresentadora, capa da Caderno de Moda outubro.
“As pessoas lutam contra a menopausa, acham que é sinônimo de velhice. Se a gente for olhar para o patriarcado lá atrás, vai ver que colocaram na nossa cabeça que a mulher fica seca quando entra na menopausa, que não serve para mais nada. Então, dentro de cada uma, lá no inconsciente, existe uma coisa de negar esse momento. E acho que vivi isso também. Primeiro porque era muito nova, tinha 42, 43 anos, e, justamente porque não se fala muito nisso, não sabia que minha irmã [Marcia, 11 anos mais velha] e minha mãe [Angelina] tinham tido menopausa precoce. Comecei achando que era estresse, excesso de trabalho, uma TPM gigante… Tinha calorão, vivia irritada, não tinha vontade de transar… Mesmo dos médicos, só recebia informação truncada. Fiquei uns dois anos tomando chazinho para isso, chazinho para aquilo. Estava evitando um tratamento mesmo, e foi péssimo. Aí, quando encarei isso como um processo, tudo mudou. Eu realmente acredito que a menopausa é o começo de uma outra etapa da vida, e que pode ser muito legal. O fato de ter que buscar uma forma de melhorar os sintomas fez com que eu me conhecesse melhor, que me aprofundasse no meu corpo. Tem tanta coisa boa nisso. A gente para de menstruar, TPM não existe mais. Mas demorei. Demorei por falta de informação e por essa vergonha encruada que colocam na gente.”
“Quando você começa a se olhar, a se conhecer, a falar sobre o assunto, sobre a mudança na libido, você abre outro universo, onde pode se preocupar com isso. Da forma que for [depois da menopausa], a gente acaba ficando mais livre com o nosso corpo, com aquilo que a gente gosta, quer, com o que aceita ou não. E isso é muito maravilhoso. Aí é claro que a vida sexual vai melhorar, porque você está dando atenção, está olhando para ela, tentando fazer com que ela fique melhor. Mas não só isso. Passa também pelo companheiro que você tem, se o cara também está disposto a esse crescimento. A gente [ela e o apresentador Luciano Huck] está casado há quase 19 anos, então hoje temos uma intimidade muito maior do que, sei lá, cinco, seis, sete anos atrás. E esse é um assunto importante para nós, uma área que eu acho fundamental. Sexo é saúde. É importante para o bem-estar, para a cabeça, para o trabalho… E é lindo também. Tem essa coisa sagrada do sexo que eu acho incrível.”
“Não falei claramente, não declarei [voto nas eleições presidenciais de 2022] porque não tenho uma posição de um nome. Minha posição hoje é a democracia. Alguém que cuide, que se preocupe com a nossa floresta. Alguém que fale de amor e não de ódio, que se preocupe com a saúde mental das pessoas. Estou, como muitos brasileiros, com uma dificuldade enorme de decisão. A política é a única maneira de resolver a situação do povo, das pessoas, de forma grandiosa. E a gente não vê isso hoje. A gente vê briga por poder, um Fla x Flu, uma coisa que não pode ser, não é para ser. Então estou aqui angustiada, louca para ver as coisas se resolverem, a democracia ser salva, as pessoas terem consciência disso. Também evito falar muito porque podem achar que é o Luciano, que é muito envolvido com a política, falando um pouco também. Mas a gente discute, conversa muito sobre o assunto. Ele também está superangustiado. Acho que está todo mundo nesse medo de não dar certo, de continuar essa falta de cuidado com o país, cuidado com as pessoas, esse descaso com a democracia. Momento muito louco que a gente está vivendo.
“Fiquei muito lisonjeada quando surgiu a especulação do SBT [para ocupar o espaço que era da apresentadora Hebe Camargo], achei muito legal. Hebe, imagina, ícone total. Aos domingos [à frente do programa Família é Tudo Igual, na Globo], a mesma coisa. Nada disso é verdade, mas por um lado essas especulações me deixam muito feliz porque é sinal de que de alguma forma as pessoas me querem no ar, e fazendo alguma coisa diferente. E eu gravei agora o Tarã, que é uma série da Disney+ de oito episódios onde faço uma coisa completamente diferente do que sou ou do que já fiz como atriz, então é bem legal. Além de ser com a Xuxa, o tema, que é falar um pouco dessa coisa dos nossos povos originários, do desmatamento, desse assunto tão importante que é a Amazônia e desse monte de loucura que acontece com a nossa floresta, me atraiu muito. Também tem a Mina, que é uma plataforma onde tenho uma coluna só, mas que é muito maior do que meu nome ou do que eu. Um projeto que eu comecei quatro anos atrás para dividir um pouco com as pessoas o que me faz bem, as ferramentas que encontrei, o quanto o bem-estar é importante para todo mundo. A realização de um sonho.”
“Meus filhos me trouxeram uma realidade, botaram meus pés no chão. Vivi a infância com eles porque a minha foi diferente. Tem coisas, por exemplo, que fico observando na Eva [a caçula, de 10 anos] que não vivi também. A vaidade dela eu acho muito engraçada. Eu nunca precisei ser vaidosa, estava sempre sendo maquiada, arrumada, penteada. Nunca precisei desenvolver isso. Ela não. Cria os próprios looks, se maquia… E eu nunca tinha parado para pensar em feminismo antes de a Eva chegar. E ela trouxe isso. De pensar: ‘Que mundo eu quero para a minha filha?’ Mesma coisa com a adolescência dos meninos. Eu tenho um de 14 [Benício] e um de 17 [Joaquim], e não tive isso de ‘vai para a festa, chega às 3 da manhã’. Porque, na verdade, eu não tive tempo, e minha cabeça estava em outro lugar também. Dos 14 aos 22 foi o auge de tudo: eu fazia dois programas de televisão, fazia show todo fim de semana, gravei 20 longplays… Não parei. Quando vi, já tinha 20 e poucos anos. Então estou aprendendo com eles. A gente sempre teve muito diálogo, eles são honestos, abertos, sabem que têm sempre muito apoio aqui. A coisa até que flui bem. Mas eu fico acordada esperando, aquelas coisas. É um estresse que eu não conhecia.”