“Ah, eu não vou virar influenciadora não…” Quem acompanha essa coluna aqui sabe que eu tive minha crise “TikToker”, e jurei que nunca, nunquinha, abriria uma conta lá. Nem iria me render à influência.
Pois, meses depois… lá estou. E no Instagram, no Youtube, no Spotify, com podcast e tudo. Empreendendo na influência. Pois é. Fato é que o jogo realmente virou, e estamos todas – empreendedoras e influenciadoras – calçando os sapatos umas das outras.
Cabe um contexto aqui. Era 2020. Lá, confesso, me indignava um pouquinho (quem nunca?) ao ver uma carreira aparentemente mais fácil (friso o aparentemente, porque hoje sei que é dificílima) render tantos dividendos para a mulherada. Muito mais do que os meus do fim do mês – e olha que eu ralo, viu? Fábrica, loja, impostos, funcionários, demandas, angústias, produtos, logística, planilhas. Glamour zero. Enquanto isso, os stories delas seguiam bombando, assim como suas contas bancárias. A lista de coisas que eu considerava injustas sobre o valor que as influenciadoras estavam acumulando daria uma coluna inteira.
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Veio a pandemia, lojas fechadas e as tais influenciadoras passaram a valer ainda mais. Assim como minha mágoa. Mas… como tudo que odiamos fala sobre nós também, parei para refletir. Eu não tinha dinheiro nem para pagar os aluguéis das lojas fechadas, quanto mais para pagar alguém para falar da minha marca. Pensar isso em voz alta me deu um estalo e me fez olhar para dentro. Por que eu mesma não falava da minha marca? Entendi que eu estava com medo, que tinha vergonha do que os outros pensariam de uma empreendedora vendendo o próprio produto.
Engoli a seco e segui em frente. Comecei a fazer vídeos dos meus sapatos, bem no início do lockdown. Como eram vários por dia, com looks diferentes, aproveitei para promover (de graça) outras marcas de empreendedoras que estavam na mesma situação que eu.
Aí, veio a segunda onda (da minha crise): estava fazendo o mesmo papel das influenciadoras – só que… de graça! E isso dava muito trabalho! Comecei a entender que vida de influenciadora não é mole. Eu tinha que me arrumar toda, mostrar uma disposição diária para poder mostrar meu produto e das outras marcas com as quais tinha me comprometido. Manter a energia lá em cima. Fazer e refazer até um nível mínimo de satisfação. Muitas gravações, fotos, estudos sobre cada produto. Implorar por silêncio em casa. Fora a ansiedade quando, depois de todo esse esforço, meu conteúdo não atingia o engajamento tão almejado.
Pronto. Eu tinha passado pro “outro lado”, aquele que eu tinha metido o pau. E estava sentindo na pele como era difícil esse trabalho. Percebi que requeria um baita esforço gerar conteúdo. E, pior, era um trabalho que não tinha horário, que invadia o fim de semana e a sua intimidade. Mas ser empreendedora também não tem horário: acontece que não somos assistidas o tempo todo. E, com uma boa organização, não precisamos trabalhar nos finais de semana. Nem usar a nossa intimidade para gerar lucro. Isso sem falar que ninguém considera um empreendedor uma pessoa fútil. Paguei minha língua.
Quando conseguimos nos colocar no lugar de outra pessoa, podemos fazer duas coisas: seguir nossa vida fingindo que nada aconteceu ou mudar. Optei pela segunda. Passei a respeitar o trabalho de criadoras de conteúdo. E a olhar com mais cuidado para essa carreira, que é uma força motriz do mercado. E para essas mulheres, que, sim, se tornaram grandes empreendedoras.
É exponencial o número de influenciadoras que se tornaram mulheres de negócio, que gerenciam suas escolhas, que lançam produtos, que tornam seus nomes grandes e valiosas marcas. Empreender é o segundo passo da influência digital.
Minha relação com esse universo se tornou muito mais amistosa depois que vesti os sapatos das minhas hoje colegas das redes. Até passei a contratar influenciadoras para fazerem esse trabalho para a minha marca, de forma mais consistente. Sigo lá falando e postando – hoje me desliguei de algumas funções para assumir esse lugar de comunicação. Me demiti para me recontratar.
Moral da história: encarar a própria sombra é o segredo para aprofundar a conexão com o outro – e especialmente com você mesma.
Caminhamos juntas!