A superstar Selena Gomez dia desses fez uma dublagem de um áudio no TikTok que tem tudo a ver com amor-próprio e aceitação do próprio corpo. No vídeo publicado, ela escuta alguém mandar ela “encolher a barriga”, e, após a primeira fala, Selena dubla a segunda dizendo “Eu não vou murchar nada. As barrigas reais estão de volta, ok?”.
Vendo esse vídeo eu me lembrei de uma das muitas situações que passei nas quais quiseram me diminuir ou me desestabilizar por conta do tamanho da minha barriga.
Uma vez, em uma reunião de negócios, um dos homens da sala tentou me deixar constrangida e tirar a minha concentração se utilizando do olhar. Ele olhava insistentemente para a minha barriga enquanto eu falava tentando me desestabilizar.
Por alguns segundos ele conseguiu o que ele queria, pois perdi o prumo por um momento, mas imediatamente eu me recompus e disse para mim mesma que eu não ia cair naquela estratégia horrível e ia mostrar o meu valor. Para fugir da artimanha dele, mudei de lugar a sala, saindo do seu campo de visão e consegui terminar a minha fala com toda honra e glória que tenho direito.
Muitas vezes a gordofobia não é explícita, não é dita, mas quem já passou por isso sabe que ela é sentida na alma.
Um outro exemplo que chamou a minha atenção foi durante a participação do ator e humorista Paulo Vieira no programa Domingão do Huck, comandado por Luciano Huck, na última semana. Poderia ter sido apenas mais um domingo de entretenimento na televisão brasileira, mas outra vez tivemos gordofobia disfarçada de “piada”.
Após vencer a “Batalha do Lip Sync”, novo quadro do Domingão com Huck, Paulo foi premiado com um cinturão que visualmente não fecharia em sua cintura. Constrangido, fez piada, o apresentador Luciano Huck fez piada, mas o embaraço geral era visível tanto no palco quanto no sofá da sala – e reverberou nas redes sociais.
Depois de ver aquilo, fiquei pensando quantas vezes não dei um sorriso sem graça, reforcei alguma piada tosca ou fingi que não entendi o que estava acontecendo para que a situação não se tornasse ainda mais chata. Assim, a gente se machuca para não machucar os outros.
A produção do Domingão convidou uma pessoa gorda para participar de um quadro. Até aí, ótimo! Corpos gordos podem e devem ocupar todos os espaços. Mas eles ou pensaram que Paulo nunca ia ganhar ou simplesmente ignoraram que o cinto poderia não caber em um dos participantes.
Comentei sobre isso nas minhas redes sociais, e, como resposta ao meu comentário vieram alguns dizendo que não viram gordofobia ou que, se houve, foi sem intenção. E um deles foi além, dizendo que “ninguém tem que viver as neuroses particulares dos outros”.
A questão sobre a gordofobia (e outros preconceitos) é que o opressor nunca acha que está oprimindo, que é sempre um problema particular do oprimido e que ele deveria lidar com isso calado, sem fazer barulho ou sem apontar o dedo para aspectos que a sociedade como um todo precisa melhorar.
Ficamos calados por muito tempo. E não vão mais nos calar.