Um estudo inédito conduzido pela organização Stand Earth revela que mais de 150 marcas de moda podem estar vinculadas ao desmatamento da floresta Amazônica, com destaque para gigantes como Louis Vuitton, Dior, H&M, Nike, Zara, Vans, Tiffany & Co e Tommy Hilfiger. O relatório aponta que a pecuária, impulsionada pela demanda por couro, é um dos principais impulsionadores do desmatamento na região.
A pesquisa, que está em andamento, analisa mais de 400 conexões individuais na cadeia de suprimentos, envolvendo empresas brasileiras de curtumes, processadores de couro em vários países, fabricantes de produtos e marcas de moda globalmente. A JBS, uma das principais fornecedoras brasileiras, é central na investigação, revelando como a indústria do couro está interligada com o desmatamento.
A Rede de Suprimentos e suas Implicações
O Stand.Earth, especializado em pesquisa de cadeia de custódia, usou dados alfandegários, estatísticas, relatórios anuais, mídias sociais e outros para traçar a rede de suprimentos. A pesquisa destaca que cerca de 80% do couro bovino produzido no Brasil é exportado, com destinos principais sendo China, Hong Kong, Itália, Vietnã, Taiwan, Índia, Estados Unidos e Tailândia.
A investigação, que tem a JBS como ponto focal, revela uma rede produtiva exposta a mais de 3 milhões de hectares de desmatamento na última década. O desmatamento causado pela pecuária na Amazônia é responsável por quase 2% das emissões globais de CO2 anualmente, contribuindo significativamente para a crise climática.
Marcas em Risco e Falta de Compromissos
O relatório classifica as 186 marcas em “conexão única” e “conexões múltiplas”, sendo as últimas com maior risco de associação ao desmatamento. Surpreendentemente, apenas 20 marcas possuem alguma política sobre obtenção de couro proveniente do desmatamento, e apenas 15 proíbem explicitamente a compra de couro da Amazônia.
Marcas conhecidas, como Adidas, H&M e VF Corp, estão entre aquelas que possuem políticas, enquanto outras, como Louis Vuitton, Dior e Guess, não têm compromissos claros. A mobilização internacional #SupplyChange ganha apoio de figuras da moda, como a modelo Amber Valletta e o estilista Francisco Costa, destacando a importância de marcas e líderes políticos agirem contra o desmatamento.
Consequências para a Indústria Brasileira
O Brasil, com o maior rebanho bovino do mundo, enfrenta sérias implicações, não apenas ambientais, mas também econômicas. A indústria do couro, lucrativa para os frigoríficos, correspondeu a US$ 1,1 bilhão em 2020. O desmatamento associado à JBS é exposto, com satélites ligando a empresa a áreas protegidas invadidas pelo gado ilegal.
O relatório destaca ainda a influência política da indústria pecuária no Brasil, com a Lei Complementar nº 1.089/2021, que beneficia a atividade e foi apoiada por deputados ligados à pecuária. A mobilização internacional busca pressionar as marcas a zerarem o desmatamento em suas cadeias de produção, destacando a responsabilidade moral, influência e recursos econômicos que possuem.
Conclusão: A Urgência da Mudança
A revelação desses dados ocorre em um momento crítico, coincidindo com o lançamento do Índice de Transparência da Moda Brasil, que indica que nenhuma das marcas analisadas no país possui compromissos públicos com o desmatamento zero. A necessidade de ações urgentes para preservar a Amazônia e reduzir as emissões associadas à indústria da moda é evidente, e a mobilização global visa criar uma mudança significativa na forma como as marcas abordam o desmatamento em suas operações.