Lygia Marina de Moraes, musa inspiradora de Tom Jobim, é a entrevistada do programa Conversa com Bial desta quarta-feira (17). Foi para ela que o lendário músico dedicou a canção Lígia, inspirada no momento em que se conheceram. Na entrevista, ao lado do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, Lygia fala sobre a cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente o bairro de Ipanema e sua importância para as mulheres.
Para ela, o local era um símbolo de emancipação feminina na época. Lygia, que atualmente trabalha no livro Música na Alma, construído a partir de letras de música, conheceu Tom no bar Veloso, em Ipanema, quando estava com uma amiga.
“Só havia nós no botequim. Cecília e eu sentamos em uma mesinha, na varanda. Estava absolutamente vazio, e lá no fundo só uma mesa estava ocupada com Tom [Jobim] e Paulo Góes, fotógrafo, que eu conhecia de vista em Ipanema”, revela a Pedro Bial.
“Eu disse para Cecília: ‘Olha quem está lá no fundo, é Tom Jobim. Lamento, mas não vou sair daqui, não, ele está ali olhando para mim’”, relembra. “Fui ao toalete e, querendo ou não, passei pela mesa deles. Quando eu voltei, obviamente Tom estava na minha mesa, viu que eu não estava sozinha, que estava com uma conhecida, e mudou-se para a nossa mesa”, conta.
O papo rolou com muito chopp e Tom Jobim convindou as duas a ir, com ele, à casa de Clarice Lispector. “E fomos, fomos para o Leme e a lembrança que eu tenho é muito engraçada, porque quando Clarice abriu a porta, encontrou o Tom com as mãos sobre os nossos ombros, de Cecília e meu, uma de cada lado, e visivelmente Clarice não achou nenhuma graça naquela cena”, diverte-se.
“Hoje, olhando para trás, vejo que não era comum duas mulheres sozinhas em um bar durante a semana. A maioria das minhas amigas iam nos finais de semana, acompanhadas do namorado”, pontua Lygia.
“Então, foi aquela coisa: ‘Que mulheres são essas? Como é que fica no bar, sozinha…’”, relembra. “Mas por que não, né? Por que eu não podia?”, finaliza.