Há sete anos, a paraibana Lara Lima estava buscando um modo de ter uma renda sem se distanciar do filho Enzo, que ainda era uma criança pequena. O segmento da moda já era admirado há muito tempo pela empreendedora de 31 anos, e foi nesse setor que ela decidiu realizar o sonho de abrir o próprio negócio em Campina Grande (PB). Assim nasceu a marca de roupas Umói — com nome inspirado na expressão local equivalente a “um molho”, para representar grande quantidade.
Além de garantir o sustento da empreendedora, a empresa surgiu com outro propósito: o de desconstruir preconceitos. Lima explica que, na região onde morava, ouvia comentários negativos sobre sua opção por usar roupas masculinas. Segundo ela, as pessoas sempre questionavam sua sexualidade por conta do tipo de vestimenta. Por isso, ela decidiu fazer da Umói uma marca de roupas agênero (sem identidade de gênero definida).
“Eu venho de um contexto totalmente machista e de ignorância mesmo. Então, as pessoas de lá sempre ligaram o modo de se vestir ao caráter e a outras coisas. No meu caso, a cidade todinha achava que eu era ‘sapatão’ porque eu usava roupas masculinas e achava elas mais confortáveis”, lembra Lima.
Para iniciar o negócio, Lima utilizou retalhos de tecidos que já guardava em casa e passou a costurar com a mãe, Rossana. As primeiras peças foram camisas de botão coloridas com tamanhos grandes. Além de não definir gênero, a marca defendia a predileção por produzir peças confortáveis, que não apertassem e que pudessem ser usadas por diversos tipos de corpo. “Isso foi proposital para que as pessoas usassem peças que são além do tamanho delas e sentissem realmente um conforto.”
Lima iniciou as vendas nas universidades públicas da região e, com os lucros obtidos, foi reinvestindo na marca, ampliando parcerias com outras costureiras e ampliando o portfólio. Hoje, ela trabalha com mais quatro colaboradoras em pontos diferentes da Paraíba e de Pernambuco. Também desenvolve outros produtos, como pochetes, calças e chapéus.
Os itens da marca são disponibilizados aos clientes com valores a partir de R$ 55. As camisas, que foram as primeiras peças confeccionadas pela empresa, são as mais vendidas. Além dos modelos de pronta-entrega, vendidos em feiras e lojas colaborativas, a Umói também aceita encomendas para roupas personalizadas e envia pedidos para todo o Brasil.
Os modelos são desenhados por Lima, que tem feito parcerias com artistas plásticos e artesãos locais para ampliar a oferta de roupas e acessórios com tecido autoral, pintados ou bordados à mão. Os clientes também podem colaborar nas criações, orientando sobre o modo como desejam que suas peças sejam estampadas.
Segundo a empreendedora, o faturamento mensal do negócio tem variado entre R$ 4 mil e R$ 7 mil.
Mais do que alcançar o objetivo de se sustentar com o próprio negócio e viver mais intensamente a maternidade, Lima percebe, por meio do feedback dos clientes, que a escolha de trabalhar com a moda agênero está cumprindo também o propósito de quebrar preconceitos e de ser representativa para diversas pessoas. É assim que ela pretender escalar futuramente o negócio.
“Pessoas que tinham uma construção preconceituosa a respeito das modelagens acabaram desconstruindo muito isso. Eu tenho muitas mensagens de pessoas que nunca tinham usado esse tipo de roupa e depois viraram meus clientes. É como se a pessoa vivesse outra versão, e é interessante o efeito que uma roupa pode ter na vida de uma pessoa”, diz a empreendedora.