Enquanto mulheres são julgadas por ir à praia num simples biquíni, homens mais velhos são exaltados pela paternidade tardia “As pessoas querem que maternidade e culpa sejam sinônimos”, diz Claudia RaiaNo início do mês, o ator Al Pacino, confirmou que esperava um bebê junto à namorada, a produtora Noor Alfallah, de 29, grávida de oito meses. Na última quinta-feira, saiu a notícia de que Pacino se tornou pai novamente, aos 83 anos de idade, com a mulher, 54 anos mais nova. Juro que vi algumas poucas linhas sobre o fato. O mesmo ocorreu com Robert De Niro, que anunciou uma nova paternidade, aos 79, semanas antes.
Assim como eles, Richard Gere, de 73, teve dois filhos, um aos 69 e aos 70; Mick Jagger, de 79 anos, teve o último filho aos 73. Além dele, vários outros – inclusive no Brasil – e na mesma faixa de idade, ostentam suas novas crias como se fosse um troféu por sua virilidade por aí, livres, leves e soltos. E é exatamente assim que são vistos pelo mundo.
Retrocedendo bem pouco, nem é preciso parar para lembrar o alvoroço que foi quando a atriz e nossa colunista de Sua Idade, Claudia Raia, anunciou a gravidez de Luca. Livre e dona de suas vontades, Claudia decidiu ser mãe, aos 55. E teve de lidar com uma enxurrada de comentários por isso.
Outro exemplo, foi também, na semana passada, quando explodiram manchetes que, sistematicamente, comentavam sobre o corpo de mulheres acima dos 50 anos. Confesso que já andava obcecada por essas chamadas há um tempo. Em uma entrevista com Flávia Alessandra esta foi uma das perguntas, inclusive. E nem é preciso procurar muito: é só dar um google que as chamadas pipocam na tela. E não é de hoje.
Várias notícias como: “Flávia Alessandra exibe corpão de micro biquíni aos 48 anos”, “Demi Moore exibe corpão de biquíni na Grécia, aos 59 anos”; “Eliana posa de biquíni e exibe corpão aos 48 anos”; “Aos 62 anos, Maria Padilha exibe corpão em foto de biquíni na praia”; Mulher de Galvão Bueno (repare que ela nem ganhou uma identidade) exibe corpão em praia paradisíaca”; “Aos 60 anos, Solange Frazão exibe corpão”; “Magda Cotrofe exibe corpão de biquíni aos 60 anos”, foram só algumas que voltaram na pesquisa.
Recentemente, também li que a apresentadora Cátia Fonseca não exibe, mas “choca com corpão surreal”.
Sem entrar no mérito da falta de criatividade dos colegas jornalistas com chamadas tão repetitivas, o que choca, isso sim, é a capacidade de propagar exaustivamente mensagens preconceituosas, machistas e que tolhem a liberdade. Por que é sempre tão necessário comentar os corpos das mulheres e suas atitudes? E SEMPRE trazendo sua idade seguida de um preconceito traduzido como “elogio”. “Envelhece no formol”, “Surreal”, no fundo, querem dizer: apesar de ser uma velha, fulana choca por estar com um corpo ótimo. E também por ousar exercer sua liberdade por aí.Por que nenhum homem de 60, 70, 80 choca quando se casa com uma mulher que tem 30, 40 anos a menos? E quando decide ter filhos nessa idade? Por que é tão afrontoso uma mulher exercer sua liberdade? De não pintar o cabelo, de andar como quiserem, de fazer o que der na telha, de ir (ou não) onde e quando quiser, usar as roupas que mais gostam, de se relacionar com homens (ou mulheres) mais novos?
Embora a gente vá se desprendendo das amarras que a vida nos apresenta à medida que vamos amadurecendo, de uma forma ou de outra, ainda nos pegamos obedecendo a padrões que nos são impostos desde que a gente nasce. E assim, passamos uma vida – escapando vez ou outra – mas muitas vezes sendo submetidas a um julgamento calcado no machismo estrutural e no preconceito, introjetados em homens e, muitas vezes, em mulheres também.
Não se trata de ser invejosa, mal amada ou algo do gênero, gostaria de dizer que além de não se trata de nada disso. Mas sim do mais alto grau de etarismo e misoginia. E que a gente deve apontar e gritar contra todos os dias. Mirando no alvo certo, claro.