Um dos maiores festivais do mundo é feito por mulheres. Bom, não só por elas, porém, no Rock In Rio de 2022, as colaboradoras correspondem a 63% do quadro. E, mais do que isso, são mulheres que estão em cadeiras de tomada de decisão, da produção executiva, passando pela cenografia, as ativações e, como líderes, representam 65% dos cargos.
Um mês após o festival, análises mostram que, nos palcos, apesar de serem minoria e um único dia dedico a elas, foram as mulheres que figuraram as apresentações mais comentados. Demi Lovato, Luísa Sonza, Dua Lipa, Ludmilla e Iza foram os nomes femininos que mais apareceram em menções nas redes sociais.
No Dia Delas, Dua Lipa, Megan Thee Stallion, Rita Ora e Ivete Sangalo se apresentaram no Palco Mundo. No Sunset tivemos Liniker convida Luedji Luna, Macy Gray e Ludmilla. Lexa agita o Palco Favela.
Para Marisa Menezes, diretora artística nacional do Palco Mundo, o dia é uma “homenagem ao empoderamento feminino”. “É importante para mostrar o quanto somos fortes e competentes, e que podemos, sim, eliminar o preconceito e deixar bem claro que o mundo é das mulheres”, disse ela ao jornal O Globo.
O nome mais conhecido por trás da realização do Rock In Rio é o da vice-presidente-executiva Roberta Medina. Filha de Roberto Medina, o criador do festival, ela produz o Rock in Rio em Lisboa e em Madrid. Para ela, a participação no Grupo Dreamers e criação de comitê de Diversidade possibilitou olhar para a igualdade de gênero.
“A abertura de olhar está trazendo e vai trazer ainda mais resultados rapidamente para o mercado, não só da música e do entretenimento. Mas é preciso incentivar e investir na participação e na formação das mulheres (e da diversidade em geral) em toda a cadeia produtiva”, disse Roberta em entrevista ao Popline em março desde ano.
Ao lado de Roberta, alguns nomes de destaque são Ana Biavaschi, diretora de Rockreators, responsável pela cenografia do festival e sua dupla, Bruna Backes, coordenadora de engenharia. Ana Deccache, como Diretora de Marketing, Ingrid Berger, produtora de eventos e coordenadora de camarins, Juliana Ribeiro, lider do time de operação de ingressos, Renata Guaraná, de Parcerias e Agatha Arêas, VP de Learning Experience.
O comitê de Diversidade trabalha o crescimento da liderança feminina a inclusão da mulher negra e/ou LGBTQIA+ no mercado de trabalho. O setor com menos representação feminina é o de “técnicas”. “Uma característica do mercado”, explica a diretora do festival ao portal português Magg.
De acordo com informações do O Globo, entre as atrações dos palcos Mundo e Sunset, 39% são femininas. O festival Lollapalooza deste ano, em São Paulo, apresentou 24%. Ambos eventos possuem o mesmo número de atrações total quando considerados os dois palcos principais do Rock in Rio.
Elas comandam as ativações
Para além dos shows, o Rock In Rio é feito de experiências. Algumas começam antes mesmo das datas de festival, como o podcast “She Rocks”, que nasceu a partir da observação de dados relativos à representatividade da mulher na indústria musical e é uma parceria com a TIM, patrocinadora oficial da edição de 2022, sob o comanda da Diretora de Comunicação e Branding Ana Paula Castello Branco.
“A música está no DNA da nossa marca e é uma das grandes paixões da brasileira e participar de uma iniciativa que dê mais visibilidade para as mulheres está em linha com nosso compromisso com temas como equidade de gênero e combate ao machismo”, diz Ana Paula.
Maria Paula Fonseca, Diretora Global da Natura, e Fernanda Paiva, Head of Global Cultural Branding também assumem este compromisso. A marca é responsável por duas ativações, entre elas a NAVE, uma experiência imersiva em instalação audiovisual de 360 graus que apresenta ao público uma Amazônia contemporânea.
“Ano passado atingimos a meta de termos 50% de mulheres na liderança e, apesar de antes não termos muitas inspirações nestes cargos, fomos nos fortalecendo pela conexão de ser profissional, mãe, mulher, filha..”, diz Maria Paula.
Fernanda costuma dizer que elas andam em bando e foi assim que chegaram ao Rock In Rio, com uma equipe predominantemente feminina. “A Amazônia é feminina em sua essência, então foi orgânico e intencional cairmos em nomes de mulheres e, assim, construímos uma equipe diversa”, explica.
A indígena Priscila Tapajoara, do baixo rio Tapajós, é uma das mulheres desta equipe e teve a missão de produzir o conteúdo imersivo no Portal Natura, da cidade do rock, assinado pelo arquiteto Marko Brajovic – único homem neste projeto.
- Amazônia contemporânea tem espaço especial no festival do Rock in Rio 2022
A liderança da Natura acabou servindo de inspiração para outras marcas presentes no evento. “É a segunda vez que estamos no RiR, sabemos que servimos de exemplo, mas ainda há muito o que fazer. Queremos incluir mais pessoas maduras e com deficiência, já que a diversidade de corpos e raças são o nosso DNA”, diz Maria Paula.
Para as lideranças, o foco de um evento como este é ir além do produto. “O espaço de entretenimento capturar a atenção das pessoas e conta uma história legítima da marca e que não morre aqui, ela leva para a vida”, explica Fernanda.
“É a oportunidade de materializar o que somos e o que acreditamos. As pessoas já conhecem meu batom, o meu creme e o meu shampoo. Agora eu conto a minha história, e meu propósito de um jeito criativo dentro desse ambiente”, completa Maria Paula.
Além de Natura, pensaram em ações de sustentabilidade as marcas Heineken, que implantou dentro do Parque Olímpico na Barra da Tijuca, onde aconteceu o evento, uma microfloresta urbana de cerca de 900m² formada por espécies nativas da Mata Atlântica. E a Braskem, que estimulou o público a manter a limpar e separar resíduos plásticos para reciclagem. A ação teve como resultado a captação de mais de130 mil itens plásticos.
Agora, um mês após o Rock In Rio 2022, Maria Paula e Fernanda dizem que alguns impactos não podem ser medidos. “É difícil mensurar o que cada um sonha saindo daqui, já que falamos sobre isso com as pessoas. Mas sem dúvidas abrimos milhares de portas”, diz Maria Paula.
A diretora fala das mulheres que tiveram oportunidade de assinarem grandes projetos pela primeira vez. “A gente constrói um imaginário de que, se uma mulher chegou nesse lugar, outras vão olhar e vão falar eu também consigo chegar”, diz Fernanda.