“Alguns maridos ficam longe muito tempo, sem dar notícias. Aquilo ia deixando as mulheres tristes. Então, a partir da arte e se voltando para as próprias raízes, elas começaram a se empoderar, a ganhar voz e a conseguir uma fonte de renda”, explica Viviane Fortes, coordenadora geral da Associação Tingui, que viabilizou essa transformação.
O que era, no começo, uma rede de apoio e afeto, acabou virando a forma de sustento delas. O projeto encabeçado pela Associação Tingui deve início em 2015. Três artesãs com mais experiência ensinaram a outras mulheres o ofício. Foram dois anos compartilhando conhecimento até que, em 2017, elas começaram a ganhar dinheiro com o trabalho artístico que fazem. Hoje, mais de 30 trabalham na oficina.“As peças levam mais ou menos um mês para ficar prontas, porque o trabalho começa lá na lavoura, com elas colhendo o algodão, preparando o material, tingindo os tecidos. Nada vem de fora, é tudo feito por elas”, completa Vivian. O projeto foi ganhando força ao longo dos anos. Além das colaborações com marcas grandes brasileiras, as artes já foram expostas em museus pelo Brasil e pelo mundo.
“Recentemente, foram expostas em Milão, na Itália, e em Budapeste, na Hungria. Quando teve a exposição em Belo Horizonte, levamos 25 delas para lá. Foi uma festa, elas cantaram, ensinaram o ofício para quem foi lá ver. Foi uma troca gratificante.”
Além de trazer sustento para diversas famílias da região, o projeto também quer divulgar a cultura do Vale do Jequitinhonha –região associada a seus baixos índices sociais e econômicos. Mas Viviane lembra que, durante a pandemia, o projeto passou por dificuldades. Em meados de 2020, perdeu o apoio de seu principal patrocinador.
Mas, no ano seguinte, a Associação Tingui foi uma das 20 escolhidas pelo edital da Magalu, que tinha como o intuito doar R$ 2,2 milhões e capacitar OSC (Organizações da Sociedade Civil) dedicadas ao combate à violência contra a mulher.
Em 2021, o fundo de R$ 2,6 milhões –incluindo impostos do governo e custos com capacitação– foi lançado por meio de um edital e recebeu 459 propostas de organizações localizadas em 200 municípios brasileiros. As entidades foram separadas em três categorias: nacional, estadual e local. Na primeira, cada uma recebeu R$ 150 mil e, nas demais, R$ 100 mil cada.
O mesmo projeto ganha um novo edital hoje, neste 8 de março. Entidades de pequeno, médio ou grande porte podem se inscrever, mas, necessariamente, precisam ter sua linha de atuação focada em geração de renda, acesso à Justiça ou apoio a mulheres. Nesta nova fase, até 20 ONGs de qualquer lugar do país receberão, no total, R$ 2,2 milhões para desenvolver e ampliar sua atuação.
“A primeira edição da iniciativa foi um sucesso, com mais de 450 propostas recebidas. Foi bem difícil fazer a triagem, mas sabíamos que queríamos ONGs do Brasil todo, não só do eixo São Paulo – Rio de Janeiro”, afirma Ana Luiza Herzog, gerente de reputação e sustentabilidade da Magalu.
Em 2020, quando foi lançado, o fundo selecionou OSCs de todo o país, 71% delas fora do eixo Rio-São Paulo. A empresa aportou mais de R$ 2,5 milhões, sendo R$ 150 mil para as entidades de abrangência nacional e regional e R$ 100 mil para aquelas com atuação comunitária. Além disso, as 20 organizações receberam uma consultoria especializada em capacitação de organizações sociais para auxiliá-las na melhoria da gestão dos recursos financeiros e das estratégias de marketing e de captação de recursos.
“Tinham ONGs que a gente ajudou com tudo, até o passo a passo para abrir MEI. Isso ajudou a fortalecer essas associações, foi bacana acompanhar todo esse crescimento. A gente também colocou as associações em contato uma com as outras para trocar experiências”, finaliza.
Durante a pandemia, a Magalu relançou o botão de denúncia contra violência doméstica, que já era parte do aplicativo da loja desde 8 de março de 2019. Mas, segundo Luiza, não foi suficiente. As entidades escolhidas têm atuações variadas no tema. Algumas trabalham para oferecer capacitação profissional e impulsionar a independência financeira das vítimas –um fator determinante, na maior parte dos casos, para as mulheres romperem os vínculos com os agressores.