“Em janeiro de 2016 passei por uma separação conjugal bastante traumática. A decisão partiu de mim e eu estava bem resolvida, mas meu ex-marido não aceitava de jeito nenhum. Como não consegui uma separação amigável, decidi sair de casa praticamente com a roupa do corpo. Peguei meus dois filhos, João Marcelo e Zenilo Neto, e fui recomeçar minha vida, deixando tudo para trás.
Fomos para a casa da minha mãe, que nos acolheu por seis meses. Em julho, nos mudamos para o nosso novo lar. Era um espaço bem menor do que a casa confortável que morávamos antes, mas a vontade de sair daquele relacionamento tóxico fazia valer a pena. Confesso que em muitos momentos tive medo de não dar conta de tudo sozinha. Foi um ano de muitas mudanças, de chegar ao fundo do poço e me reerguer.
Durante esse período conturbado fui notando o aparecimento de manchinhas brancas no meu rosto. Começaram pequenas, em cima das sobrancelhas, e foram aumentando até chegar à extremidade do meu cabelo. Aquilo me deixou muito preocupada.
Após consulta com uma dermatologista especializada, recebi o diagnóstico: tinha desenvolvido vitiligo por causas emocionais. Fiquei arrasada. Eu trabalhava como influencer, como eu poderia conviver com vitiligo no rosto, o nosso cartão de visitas? Sempre fui uma pessoa muito vaidosa, e apesar de morar em Fortaleza, evitava a exposição ao sol, cuidava da minha pele.
No final do ano as manchas já tinham se alastrado por todo meu rosto, incluindo pálpebras e sobrancelhas, que ficaram brancas por ausência de pigmentação. Tive ainda uma lesão no couro cabeludo.
Fui a muitos médicos e tentei de tudo – pomada importada, tratamento com luzes, com CO2… Todos sem sucesso. E cada vez me frustava mais. Passei a viver maquiada o dia todo para esconder minhas manchas. Temia que as pessoas tivessem preconceito comigo. Me olhava no espelho e via as manchas aumentando… era de chorar. A doença, além do rosto, se alastrou para minhas partes íntimas.
Após dois anos de tentativas, decidi aceitar o vitiligo. Sempre fui uma mulher plus e muito bem resolvida com isso. Sou uma pessoa extremamente alegre, feliz, pra cima. Decidi, finalmente, que não seriam umas manchinhas que iam me desanimar. Um dia, me olhei no espelho, encarei todas as minhas manchinhas de frente e disse: ‘Sabe de uma coisa? Vitiligo, eu nem te ligo’! E esse virou meu lema de vida dali em diante.
Sabemos que trata-se de uma doença autoimune, uma doença dermatológica, que não é algo que vá me tirar a vida. Na verdade, é muito mais um tratamento estético do que de um tipo agressivo. Então, resolvi conviver com meu vitiligo, falar dele para as outras pessoas, conscientizá-las que vitiligo não é contagioso — pode abraçar, beijar e ter contato físico.
Hoje sou casada novamente. O Tobias, meu grande amor, abraçou meus filhos e minha família como se sua fosse. E quando as lesões do vitiligo estavam se alastrando cada vez mais, ele já estava comigo, me segurou pela mão e disse que com ou sem manchas eu sempre serei linda. Esse amor me deu ainda mais força.
Sempre falo para as pessoas que quando você descobre, você se fragiliza, mas depois se acostuma e vê que é mais um desafio na vida para superar. Essa fase da aceitação é realmente bem delicada. Mas passa.
O amor que tenho à minha vida e o encantamento por viver são muito maiores do que qualquer doença. Hoje, digo que o vitiligo não me incomoda como antes. Faço muitos posts nas redes sociais de cara limpa, evidenciando as minhas manchinhas e me mostrando como sou na vida real. Nenhuma doença vai me tirar o brilho, nem minha vontade de viver.”