Enquanto se arrumava para esta entrevista, um chute do bebê trouxe à tona um largo sorriso de Gabriela Prioli, que fez questão de compartilhar esse contato com o bebê. Há um ano, a apresentadora e o marido, o músico Thiago Mansur, começaram a tirar o sonho de ter um filho do campo aspiracional. “Nós já queríamos ser pais antes de eu estrear na televisão, mas quando recebi o convite para ser comentarista e minha vida mudou totalmente, decidi esperar. Agora estou em uma fase emocionalmente mais estável”, revela a advogada, que decidiu tirar o DIU de cobre e deixar o tempo se encarregar das coisas.
A tranquilidade dos primeiros meses passou a dividir espaço com a frustração da chegada da menstruação a cada mês. Aos 36 anos, Gabi decidiu que o congelamento de óvulos seria seu próximo passo para “viver em paz”, já que a gestação não se concretizava. No consultório, o casal ouviu da médica que era válido tentar mais vezes, seguindo datas de período fértil.
Entediada com a burocracia da fertilidade, a apresentadora desencantou de seguir as datas à risca, até que deu certo. “Descobri no domingo de Carnaval. Cheguei de viagem do Rio de Janeiro e falei para o Thiago que ia comprar o teste. O tempo recomendado nem tinha dado, quando os dois riscos apareceram”, lembra Gabi, que celebra a maternidade com desprendimento e uma rotina ativa.
Carinhosamente apelidado de ervilha, o sexo do bebê foi revelado com exclusividade à Caderno de Moda neste bate-papo. “A vida toda achei que teria uma filha não sei porquê. Mas a neutralidade de gênero da língua fazia com que eu pensasse na gravidez que seria menino. Cara, é uma loucura, porque vou ser mãe de uma menina”, conta a advogada sobre a bebê, que ainda não teve seu nome revelado.
Em meio a esse sonho, Prioli segue em seus compromissos profissionais, que vão desde a produção de um curso e do seu segundo livro, que irá tratar sobre ideologias, até o lançamento da terceira temporada do “À Prioli”, programa de entrevista da comunicadora.
A seguir, Gabi compartilha a chegada da maternidade, impactos no casamento, a escolha dos padrinhos, que inclui Anitta e Leandro Karnal, e sua visão sobre a presença das mulheres nas eleições deste ano.
Depois desse período de um ano disponível para a chegada da maternidade, como você está se sentindo grávida?
Não sabia como seria, mas tinha uma expectativa ruim. Achava que seria mais complicado, tinha esse medo. Nas primeiras semanas, tive bastante dificuldade digestiva, me sentia pesada e adaptei muito minha alimentação para porções menores e mais leves. Fiquei ótima com essas mudanças e, agora, tenho a mesma disposição e concentração. Para mim, o meu trabalho é uma extensão da minha existência e convicções, então me sinto realizada de conseguir viver tudo isso com ela.
A sua trajetória sempre foi acompanhada das pautas ligadas aos direitos das mulheres. Como foi receber a notícia de que colocaria uma menina no mundo?
Venho de uma família que é muito matriarcal. Minha bisavó era professora e sempre trabalhou fora de casa, minha avó cantora lírica e artista, e minha mãe ficou viúva aos 32 anos e eu estou aqui metendo o pé na porta com esse discurso de libertação para as mulheres. Para mim, ela já chegou revolucionando tudo.
Você já falou que passou por “relacionamentos insalubres” antes do Thiago. A partir disso, entendeu que relações são complexas e não difíceis. Como esse mantra vem ecoando para vocês nesta fase?
Ele está completamente apaixonado por ela. Teve um episódio, que falei na terapia inclusive, que nos mostrou o peso de uma sociedade machista até com uma bebê na barriga. Uma pessoa próxima falou que ele sairia da profissão de consumidor para de vendedor. Ele respondeu que a filha ia nascer livre para viver sua sexualidade e individualidade. Depois desse dia, passei a olhar com olhos que nem imaginava.
Como foi a escolha dos padrinhos?
Escolhemos dois casais de padrinhos que, além de gostarmos muito, poderiam contribuir de maneiras diferentes para a formação dela. Assim, chegamos nos amigos queridos Sig Bergamin e Murilo Lomas e a Anitta e o Karnal. Todo mundo está empolgado e fico pensando que eles vão ser padrinhos que vão mimar demais essa criança. A Anitta por exemplo até falou para mim: “Amiga, eu vou escolher todos os looks dela. Aí não espera, mas isso você que vai escolher. O que vou escolher?” Toda desesperada. O Karnal também toda hora pergunta dela. São pessoas que a gente ama e admira e queríamos que estivesse próximo da nossa filha de uma maneira especial.
Nessa preparação para parto e amamentação, você é adepta de mergulhar em livros e cursos ou prefere seguir uma linha mais relax?
Minha mãe é fonoaudióloga, mas ela trabalha com um método que chama reorganização neurofuncional, que, entre outras coisas, trabalha com o processo de amamentação. Então, como tenho ela me dando dicas, estou mais folgada (risos). Sobre o parto, estou tranquila e pensando em fazer fisioterapia pélvica, porque gostaria que fosse natural. Achava que seria neurótica, mas não estou me forçando. Não vejo de forma romantizada, mas quero que seja acolhedor e com muito respeito. Confio na minha médica para isso. Estou focada em garantir afeto e atenção para que ela tenha de mim o que é preciso para se desenvolver. Quero estar bem e tranquila para passar isso a ela.
Você já apontou que seu papel como mãe é dar oportunidades para seu filho ser feliz e crescer com autonomia, assim como defende como um direito para toda a sociedade. Para você, a parentalidade também é um ato político?
Tudo é uma forma de fazer política. Com certeza, a parentalidade e a educação são uma das mais potentes, porque formamos indivíduos a partir de uma lógica de respeito. Sou teimosa, então ainda que não consiga realizar todos meus objetivos, a única alternativa é continuar lutando para romper com esse mundo que vai na contramão de tudo isso.
De que forma estilo e gravidez estão andando na sua vida?
Eu tenho priorizado o conforto. No começo não conseguia colocar nada na barriga, mas agora está mais tranquilo. No programa, queria roupas que dessem para ver a barriga para não cair num lugar que por ser mãe teria que ficar mais séria e passei a usar bastante tricô no dia a dia. Mantive meu estilo sem muitas neuras.
Falando de trabalho, você encontrou uma nova versão sua ao se tornar apresentadora?
Eu não pensava em ser apresentadora. Trabalhar com isso revela algumas convicções que já tinha. Primeiro que gosto de escutar e entender a linha de raciocínio das pessoas. Gosto que elas se sintam confortáveis como elas são, porque a escuta ativa e a legitimação de perspectivas e vivências diferentes são coisas que me satisfazem. Esse modo de entrevistar tem relação com a diversidade que me propus a mostrar e que afirma minhas convicções para o mundo de maneira mais ampla.
Com essa experiência como apresentadora, tanto no YouTube como na televisão, você sente vontade de se aventurar em outros formatos e profissões?
No campo dos meus cursos, quero trabalhar em uma ideia de mentoria mais próxima para falar sobre trajetórias e viabilizar essa dinâmica de troca, que falta para nós mulheres. É um desejo que ficou mais forte depois que soube que teria uma menina. Mas primeiro quero focar na licença maternidade.
Sobre as eleições deste ano, você acredita que vivemos um marco em relação a candidaturas de mulheres?
A gente caminha obviamente a passos lentos na questão da representatividade, embora nossa democracia se chame representativa. Isso não quer dizer que a democracia não seja uma conquista e que não temos que preservar essas conquistas que já alcançamos, mas isso significa que temos que acelerar a mudança. Desde 1997, temos uma lei que prevê cotas para candidaturas femininas.
Desde 2009, temos a obrigatoriedade de ter 30% de candidaturas femininas para candidatas de coligações proporcionais. Em 2018, o Supremo Tribunal Federal destinou recursos do Fundo Eleitoral para essas candidaturas na mesma proporção. Isso mostra que há um fortalecimento por meio do legislativo e do judiciário a essas candidaturas, falando só do recorte de gênero. É bom que tenhamos mais mulheres de minorias efetivamente ou de maiorias numéricas minorizadas disputando esses cargos públicos? É maravilhoso para começar a ser naturalizado.
Mas os passos são lentos, por exemplo, tivemos a posse do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral. Nas fotos, você vê apenas homens e brancos. Estamos em 2022! Então, quando há um padrão de imagem na política, as pessoas entendem que o natural é aquilo. Precisamos de mais mulheres e homens diversos ocupando espaços de poder para que a democracia representativa reflita de fato a diversidade que temos no Brasil.