“Culturalmente, as mulheres toleram mais a incontinência urinária do que os homens. Como elas estão acostumadas com a menstruação e a secreção natural da vulva, parece que ser úmida neste local é uma condição normal. Mas não é”, afirma a urologista Karin Marise Jaeger Anzolch, diretora de comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia.
O escape vira um problema quando impacta a qualidade de vida do indivíduo. Por exemplo, se a pessoa precisa usar absorvente sempre, fica insegura para fazer alguma atividade, evita vestir determinadas roupas ou só vai a lugares que tenham banheiros próximos.
Às vezes, as pacientes toleram os escapes por um tempo excessivo, enquanto, na realidade, a indicação é buscar tratamento no início dos sintomas. Não precisa ter vergonha. Estamos acostumados a lidar com isso e ficamos gratos por ajudar essas pessoas.
Os profissionais de saúde indicados para tratar a doença são o urologista ou o ginecologista.
Mais comum em mulher
De acordo com Karin Marise Jaeger Anzolch, estatísticas apontam que até um terço da população pode sofrer com perdas urinárias involuntárias em algum momento da vida. A condição afeta oito mulheres para cada homem.
Existem algumas explicações para essa desproporção entre os sexos. Uma delas está na anatomia: a uretra feminina é mais curta e menos protegida do que a masculina. Outros agravantes são gestação e prática de atividade física de alto impacto desacompanhadas de exercícios pélvicos.
O principal fator, no entanto, é a menopausa. Depois que as menstruações cessam, cai a produção de colágeno. A pele fica mais flácida e os músculos que suportam a bexiga, frágeis. A queda dos hormônios femininos causa secura vaginal. “A uretra, o canal por onde sai a urina, é um tubinho úmido e flexível, revestido por um tecido quase esponjoso que se alimenta de hormônios para evitar a perda urinária”, explica a urologista.
De acordo com ela, na casa dos 70 anos, 40% das idosas têm incontinência urinária.
Tipos de perda involuntária de xixi
Existem basicamente quatro tipos da doença. O mais comum, sobretudo em mulheres, é a incontinência urinária de esforço. A urina vaza quando a pessoa tosse, espirra, pula ou gargalha, principalmente se a bexiga está cheia. O esfíncter não consegue manter a uretra fechada durante o aumento da pressão abdominal.
O segundo é a incontinência urinária de urgência ou bexiga hiperativa. A pessoa tem uma vontade repentina e incontrolável de urinar, a ponto de perder um pouco ou bastante xixi até chegar ao banheiro. Pode comprometer a qualidade do sono, pois o indivíduo precisa se levantar várias vezes ao longo da noite.
O terceiro é a incontinência urinária mista, em que ocorrem os dois tipos, tanto de esforço, quanto de urgência.
Há ainda um quarto tipo, incontinência urinária insensível, menos frequente que os anteriores e às vezes contínuo. Quando o paciente percebe, já está molhado, sem mesmo ter sentido vontade de urinar ou ter feito algum tipo de esforço para isso.
Histórico familiar
Idade
Sexo
Tabagismo
Gestação
Diabetes
Sobrepeso e obesidade
Exercícios de alto impacto
Doenças neurológicas, como esclerose múltipla e Parkinson
Traumatismo de medula
Cirurgias pélvicas
Diagnóstico
O diagnóstico da condição é clínico. O médico pergunta a história do paciente e faz um exame físico para descobrir se a bexiga e o intestino da pessoa estão nos locais certos. Pele ressecada, dermatite, assadura e cândida também podem ser indícios de perda urinária crônica.
No caso da incontinência urinária de urgência, o profissional de saúde pode pedir que o paciente anote no chamado diário miccional os momentos que urinou, o volume do xixi, situações de escape e hábitos de alimentação e bebida.
O urologista ou ginecologista pode solicitar ainda exames complementares como ressonância magnética, ultrassonografia e avaliação urodinâmica.
O tratamento depende da causa, do tipo e do grau da incontinência urinária. Em grande parte dos casos, segundo Karin Marise Jaeger Anzolch, o problema pode ser amenizado ou mesmo eliminado com a fisioterapia pélvica.
Segundo a médica, a terapia deveria ser rotineira para gestantes e mulheres que praticam atividade física de alto impacto, ou seja, aquelas em que o pé sai do chão e volta para o solo, como a corrida.
“Exercícios de alto impacto precisam ser orientados para não sobrecarregar o períneo. A recomendação vale, principalmente, para mulheres acima de 40 anos com histórico familiar de incontinência urinária”, diz ela.
O tratamento inclui ainda mudanças no estilo de vida. No caso das incontinências de urgência, é preciso eliminar da dieta café e refrigerantes, que notoriamente irritam a bexiga e estimulam a urina.
Se a pessoa for obesa, a orientação é perder 5 a 10% do peso. Com essa medida, o paciente geralmente já nota uma melhora ou mesmo o fim dos sintomas, de acordo com a diretora da Sociedade Brasileira de Urologia.
Outras opções de tratamento são remédios orais, cremes à base de estrogênio, laser, aplicação de toxina botulínica, o famoso Botox, na bexiga, cirurgias.