“Sou uma pessoa muito sonhadora – e sonho grande. Sempre espero o melhor do universo”, diz a cearense Valentina Sampaio. Sua forma positiva de encarar a vida a ajudou a enfrentar o preconceito e ascender na carreira. Aos 25 anos, ela tem feito história na moda ao colecionar estreias. Foi a primeira modelo transgênero a estrelar a capa das revistas Vogue França, em 2017 (mesmo ano em que estampou uma da Vogue Brasil), e Sports Illustrated, em 2020. Também a primeira a se tornar embaixadora da Armani Beauty e a participar de uma campanha da Victoria’s Secret, ambas no ano passado. “Estou abrindo oportunidades para outras mulheres trans. Vejo como uma grande vitória, não só para mim, mas para a sociedade como um todo por ser um avanço. A vida de uma pessoa trans é uma encruzilhada, uma luta diária. É preciso ser forte para colocar o pé na rua.”
Valentina é também a única brasileira a integrar a segunda edição do projeto Crossroads da Giorgio Armani, por meio do qual um grupo de mulheres de diferentes áreas compartilha histórias pessoais inspiradoras. Entre as outras 11 participantes, estão nomes como o da bailarina francesa Aurélie Dupont, diretora de dança da Ópera Nacional de Paris desde 2016; a chef italiana Isabella Potí, que aos 27 anos já está à frente do restaurante Bros’, em Lecce, devidamente reconhecido com estrela Michelin; e a apresentadora esportiva americana Maria Taylor. “Conheci o sr. Armani em 2020, ao posar com ele para uma revista. Ele me cumprimentou, falou comigo… Foi muito especial porque trata-se de uma lenda viva, alguém de extrema relevância no mundo da moda ”, diz ela.
Nascida no país que lidera o ranking de morte de pessoas trans no mundo (pelo menos 140 foram assassinadas no Brasil em 2021, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais), Valentina quer usar sua visibilidade para defender a comunidade. “Estou lutando pelo meu espaço não só por mim, mas por todos que, assim como eu, são discriminados. Minha maior mensagem é para apenas nos verem como seres humanos.”
Apesar de hoje estar no auge, Valentina viveu situações traumatizantes, como o primeiro trabalho profissional remunerado que faria, aos 18 anos, com uma marca conhecida em Fortaleza. Já pronta no estúdio, recebeu a informação de que o shooting seria cancelado. “Me disseram que não poderiam continuar porque era uma grife muito conservadora. Como se minha foto fosse imoral”, lembra ela, que ressalta como sentia falta de representatividade. “Minha inspiração sempre foi a Roberta Close, quem eu encontrava em pesquisas na internet.”
Mesmo quando já havia iniciado sua trajetória na moda, em uma reunião ouviu de uma agência que não conseguiria trabalhar com marcas específicas. “É muito importante ter pessoas que confiam em você.” Ela acredita que a moda vem avançando em termos de inclusão e diversidade. “Mas, mesmo indo no caminho certo, a luta continua e tem que ser coletiva.”