À La Garçonne SPFW N60: alfaiataria, underwear e sofisticação marcam o desfile mais maduro da marca
Coleção de Fábio Souza Herchcovitch reafirma identidade da À La Garçonne com evolução estética e sensualidade refinada, explorando novas texturas, tecidos nobres e um olhar mais elaborado sobre o vestir
A À La Garçonne apresentou uma das coleções mais consistentes do SPFW N60, confirmando seu lugar como uma das marcas mais autorais e visionárias do calendário da moda brasileira. Sob a direção criativa de Fábio Souza, a etiqueta trouxe à passarela uma proposta que celebra a evolução de sua estética, com foco na alfaiataria artesanal, no underwear como elemento de estilo e em uma narrativa que reflete o ato de se vestir como um processo contínuo e expressivo.
A apresentação, realizada em São Paulo, foi cuidadosamente pensada para representar as diferentes fases do vestir — da manhã à noite — traduzindo, em linguagem visual, a jornada cotidiana de quem vive a moda como uma extensão da própria identidade.
👕 Do básico ao sofisticado: o ritual do vestir
O desfile da À La Garçonne SPFW N60 começou com uma série de looks que remetem à simplicidade e à intimidade do início do dia. Conjuntos de camisas e camisetas brancas combinadas com cuecas e calcinhas dominaram o primeiro bloco, evidenciando a essência leve, natural e confortável do vestir matinal.
As peças, confeccionadas em tecidos naturais e ligeiramente transparentes, criaram uma atmosfera de frescor e vulnerabilidade. As modelagens mais soltas e fluídas, típicas da marca, revelaram a habilidade de Fábio Souza em transformar o básico em linguagem estética.
À medida que a sequência avançava, as composições ganhavam estrutura, textura e intensidade. As roupas de baixo, entretanto, permaneciam em destaque, ora visíveis sob camadas de tecidos acetinados, ora sugeridas em aberturas estratégicas de calças, bermudas e saias. O resultado foi um desfile que equilibrou o erotismo sutil com o design inteligente, reafirmando o DNA da marca.
🧵 Alfaiataria como assinatura e reinvenção
A alfaiataria, um dos pilares da À La Garçonne, ganhou uma abordagem mais ampla nesta edição. Fábio Souza revisitou cortes clássicos e reinterpretou proporções, inserindo elementos contemporâneos que dialogam com o streetwear e o minimalismo urbano.
Os blazers desconstruídos, as calças de cós deslocado e os casacos de corte preciso demonstraram o domínio técnico do estilista, que combina tradição e irreverência em medidas equilibradas. Quando a alfaiataria toma conta da passarela, “fica apenas uma lembrança do que ela cobre” — como destacou a crítica especializada.
Essa escolha se manifesta tanto nas cores neutras quanto nos shapes que insinuam o corpo sem revelá-lo completamente. A sensualidade, marca registrada da grife, surge mais madura, refinada e controlada, evidenciando o crescimento estético da À La Garçonne ao longo das últimas temporadas.
✨ Brilhos, seda e tecidos nobres marcam nova fase
Uma das grandes surpresas da coleção foi o uso ampliado de tecidos à base de seda, algo pouco comum nas criações anteriores da marca. Conhecida por trabalhar com materiais mais pesados e estruturados, Fábio Souza optou por uma abordagem que valoriza o movimento e o toque das peças, sem abrir mão da identidade robusta e artesanal da etiqueta.
Os brilhos acetinados e metálicos ganharam protagonismo no segundo ato do desfile, criando um contraste interessante com as peças de inspiração underwear apresentadas no início. A transição dos looks acompanhou o ritmo do dia: das composições mais íntimas da manhã até os vestidos de festa e ternos sofisticados da noite.
Cada look reforçou a ideia de que a roupa é uma extensão da personalidade, e que a moda, na visão de Souza, é uma ferramenta de autoconhecimento. As texturas, cuidadosamente combinadas, conferiram um brilho contido, elegante e contemporâneo — ideal para uma geração que busca se destacar sem excessos.
👗 O glamour noturno e o olhar para o futuro
A parte final do desfile da À La Garçonne SPFW N60 foi um convite ao luxo inteligente. Vestidos de festa com tecidos brocados, seda pura e cortes arquitetônicos dominaram a passarela. Silhuetas estruturadas, cinturas marcadas e saias volumosas mostraram que o ateliê de Fábio Souza está pronto para competir com as grandes maisons em termos de execução e sofisticação.
Mesmo nas peças de maior impacto visual, o designer manteve seu compromisso com a sustentabilidade e o reaproveitamento de materiais, utilizando tecidos de estoque morto — uma prática que se tornou assinatura da marca. Essa escolha, além de ética, agrega valor estético: cada peça carrega uma história, um fragmento de outro tempo, reinterpretado sob a ótica contemporânea da À La Garçonne.
O resultado foi uma coleção coesa, que transita com naturalidade entre o dia e a noite, entre o íntimo e o público, entre o simples e o luxuoso.
💬 Sensualidade madura e identidade consolidada
Se nas coleções anteriores a À La Garçonne explorava uma sensualidade mais crua e provocativa, agora a marca atinge um novo patamar de sofisticação emocional. A exposição do corpo dá lugar à sugestão, à construção simbólica de desejo.
Fábio Souza parece compreender que o verdadeiro luxo está na discrição e na precisão, e não apenas na ousadia. Essa maturidade reflete o momento atual da moda brasileira, que busca equilibrar autenticidade, elegância e propósito.
O desfile da À La Garçonne SPFW N60 não apenas reafirmou a força da marca como um dos principais nomes da moda nacional, mas também demonstrou que evoluir é saber revisitar o próprio passado com novos olhos.
🧠 Fábio Souza: a mente criativa por trás da À La Garçonne
Fundador e diretor criativo da grife, Fábio Souza é conhecido por seu olhar experimental e pela habilidade de transformar elementos cotidianos em peças de alta moda. Ao longo de mais de 15 anos de trajetória, o designer consolidou uma linguagem visual inconfundível, marcada pelo diálogo entre o vintage e o contemporâneo, o artesanal e o urbano.
A cada temporada, Souza reforça seu compromisso com a autoria, a sustentabilidade e a autenticidade — valores que se tornaram raros no cenário fashion global. Seu trabalho inspira uma nova geração de criadores a pensar a moda para além das tendências, enxergando-a como ferramenta de expressão e reflexão cultural.
No SPFW N60, ele entrega sua coleção mais completa até hoje: uma síntese entre técnica, conceito e emoção.
🔍 A moda brasileira e o legado da À La Garçonne
Desde sua estreia, a À La Garçonne tem se destacado por desafiar padrões e questionar os limites do vestir. A marca introduziu no Brasil um olhar mais conceitual sobre o upcycling e o reuso de materiais, muito antes de o termo se popularizar nas passarelas internacionais.
Hoje, com o reconhecimento consolidado, a grife de Fábio Souza atua como um elo entre o passado e o futuro da moda nacional — um exemplo de como a criatividade brasileira pode dialogar com o mundo sem perder suas raízes.
O SPFW N60 reforça essa trajetória, apresentando uma coleção que não apenas traduz tendências, mas propõe uma reflexão sobre o papel da moda em tempos de consumo consciente e mudanças sociais profundas.
🪡 a moda como experiência de autoconhecimento
A coleção À La Garçonne SPFW N60 é mais do que um desfile: é uma narrativa sobre o ato de vestir, sobre o processo de se transformar ao longo do dia, sobre a sutileza da elegância e a potência do design autoral.
Entre alfaiataria, underwear e tecidos preciosos, a marca reafirma sua maturidade estética e sua relevância cultural. Fábio Souza prova que a moda brasileira está pronta para ocupar um lugar de destaque no cenário global — com identidade, técnica e propósito.
Ao final da apresentação, ficou claro que a À La Garçonne não apenas evoluiu: ela atingiu sua plenitude criativa.
