Gloria Coelho SPFW N60: Moda sobre trilhos e inovação tecnológica encantam primeira tarde do evento
No início da tarde desta segunda-feira (13.10), a Estação Júlio Prestes, no centro de São Paulo, se transformou em um cenário inesperado: a moda invadiu os trilhos. Um trem da CPTM personalizado com o nome de Gloria Coelho no letreiro se tornou a passarela da nova coleção da estilista, em parceria com a Motiva, empresa responsável pela gestão da linha 8 da CPTM. A proposta marcou a primeira tarde de apresentações da São Paulo Fashion Week N60 (SPFW N60), trazendo ao público uma experiência única, entre o cotidiano urbano e a alta-costura brasileira.
Desfile sobre trilhos: inovação e poesia
Com o público a bordo, o desfile ofereceu uma experiência pouco usual. Para Gloria Coelho, desfilar dentro de uma estação é quase poético: “O trem parte, chega, leva histórias, traz memórias. É exatamente o que sinto ao olhar para a minha trajetória: evolução, encontros e novos começos.” O cenário reforça o conceito da coleção, que explora deslocamento e movimento — tanto das locomotivas quanto da própria criadora, que há mais de cinco décadas reflete sobre as transformações da moda.
Uma trajetória de 51 anos de inovação
A estilista, com 51 anos de carreira, aproveitou o desfile para fazer um paralelo entre a Revolução Industrial do século 19 e a chegada da inteligência artificial, tema central de sua nova coleção. “Pegamos aquele período e imaginamos como essas meninas estariam hoje”, explica. O conceito mistura tradição e modernidade, evidenciando a capacidade de Gloria Coelho de se reinventar e dialogar com o presente tecnológico sem perder a identidade estética consolidada ao longo dos anos.
Tecidos, cortes e técnicas artesanais
A coleção alterna tempos e estruturas: corsets, ternos de linhas arredondadas e bases inspiradas nos anos 1960 aparecem ao lado de bordados em tule, flores e superfícies trabalhadas manualmente. Entre os tecidos, destacam-se:
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Tecno K: fibras que estimulam a circulação sanguínea e possuem ação antibactericida.
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Gabardine Armani: material nobre que valoriza corte e caimento.
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Cetim de seda: com toque luxuoso e brilho natural.
A paleta de cores percorre preto, azul, marrom, bordô e rosa, criando harmonia entre sofisticação e versatilidade. Além disso, a estilista aposta em técnicas artesanais, como franjas, volumes e bordados metálicos, evidenciando a tradição da moda brasileira aliada à inovação.
Inteligência artificial nas estampas
Outro destaque da coleção é o uso da tecnologia na criação de estampas. Um floral elisabetano foi redesenhado digitalmente por Pedro Lourenço, filho da estilista, a partir de uma imagem gerada por inteligência artificial. Esse recurso atualiza o diálogo entre tradição e modernidade, reforçando a abordagem visionária de Gloria Coelho, que desde o início da carreira mescla técnica artesanal e experimentação tecnológica.
A experiência do público e desafios do cenário
Embora a proposta tenha sido inovadora, nem sempre foi fácil acompanhar cada detalhe. Os vagões cheios e o ritmo acelerado das modelos dificultaram a visualização completa das roupas, que por vezes pareciam deslocadas naquele cenário urbano. Ainda assim, a experiência ofereceu uma saída da zona de conforto, incentivando o público a refletir sobre deslocamento, tecnologia e novas formas de apresentação na moda.
Reflexão sobre a SPFW e seu papel
Gloria Coelho também comentou sobre a importância do evento para a moda brasileira: “Eu penso que trabalhei bastante, e que a São Paulo Fashion Week fez o Brasil aparecer no mundo. Ele organizou o calendário e trouxe visibilidade internacional.” A estilista reconhece o papel simbólico do SPFW, tanto para o país quanto para sua trajetória, consolidando o evento como palco para experimentações e inovações que vão além da passarela tradicional.
Conexão entre passado, presente e futuro
A inspiração histórica — a Revolução Industrial e a expansão ferroviária — conecta passado e presente, mostrando como a tecnologia impacta a moda. Ao trazer o contexto da inteligência artificial, Gloria questiona o papel da moda no futuro, propondo peças que não apenas vestem, mas narram histórias de inovação, memória e cultura brasileira.
O movimento como metáfora da criação
O conceito de deslocamento se repete nas criações: movimento das locomotivas, da moda e das ideias. Cada peça, do corset ao blazer, carrega a sensação de viagem e evolução, alinhando estética e narrativa. A estilista reforça a importância do design consciente, valorizando materiais, processos e histórias que envolvem cada criação, tornando cada desfile uma experiência cultural e sensorial.
Gloria Coelho SPFW N60 e a moda brasileira em movimento
O desfile de Gloria Coelho na SPFW N60 consolidou a estilista como referência de inovação, tradição e diálogo tecnológico na moda brasileira. Ao unir a história das locomotivas, a inteligência artificial e a tradição artesanal, a coleção se transforma em narrativa visual que reflete a experiência de uma carreira de mais de 50 anos, inspirando futuras gerações de criadores e fortalecendo a presença da moda brasileira no cenário internacional.
Foto: Reprodução / Ze Takahashi / @agfotosite
















