Patricia Viera Verão 2025: couro, memória e inovação artesanal no SPFW N60
O verão 2025 de Patricia Viera marcou um dos momentos mais emblemáticos do São Paulo Fashion Week N60, reafirmando o protagonismo da marca carioca na moda autoral e sustentável. Sob a direção criativa de Andrea Viera, filha da fundadora, o desfile propôs uma viagem sensorial e afetiva às origens da estilista — uma revisita à Londres dos anos 1970, onde Patricia iniciou sua trajetória, sem deixar de lado o DNA artesanal e o compromisso com o couro como expressão artística.
No Teatro Iguatemi, em São Paulo, o público foi envolvido por uma atmosfera que uniu técnica, emoção e memória. Mais do que uma coleção, Patricia Viera apresentou uma reflexão sobre o tempo, o legado familiar e a capacidade de reinvenção de uma marca que há décadas define o padrão de excelência do couro brasileiro na alta moda.
Um retorno às origens com olhar contemporâneo
O ponto de partida da coleção foi Londres — cidade onde Patricia deu seus primeiros passos no universo fashion, nos anos 1970. A estilista recupera a essência desse período não como um exercício de nostalgia, mas como um diálogo criativo com o presente. “Comecei na moda trabalhando com o que chamavam de couro de classificação baixa. Aprendi a pegar o que era considerado menor e transformar em luxo”, relembra Patricia.
Essa visão se mantém viva por meio do projeto Zero Waste, iniciado em 2017, que transforma sobras de curtume em elementos de design. No verão 2025, o conceito ganha força nas estampas de poás e microflores, aplicadas com extrema precisão técnica. É o luxo que nasce da sustentabilidade — um luxo consciente, que ressignifica o valor do artesanal e do reuso.
Andrea Viera: continuidade e renovação da linguagem
Desde que Andrea Viera assumiu a direção criativa da marca em 2023, o desafio tem sido equilibrar tradição e inovação. A nova coleção demonstra maturidade nessa transição: o couro, sempre protagonista, aparece reinventado, com novas texturas e uma leveza que desafia o imaginário do material.
Andrea mantém o legado da mãe, mas imprime um olhar próprio. A estrutura das peças dialoga com o movimento contemporâneo da moda brasileira — fluido, tecnológico e, ao mesmo tempo, conectado à natureza. O macramê artesanal, desenvolvido pela costureira Eleni Gomes, adiciona uma camada de textura e movimento que celebra o gesto humano. “Por mais que a gente tenha indústria, tem coisas que só o gesto humano alcança”, comenta Patricia.
Essa dualidade entre técnica e emoção se tornou a força da marca. O desfile mostra que o feito à mão não é uma resistência ao novo, mas um pilar de uma moda regenerativa, sustentável e duradoura.
Couro como linguagem: o DNA de Patricia Viera
Nenhuma outra marca brasileira trabalha o couro com a mesma sofisticação e sensibilidade que Patricia Viera. Para o verão 2025, o material foi submetido a um verdadeiro processo de revisão estética, explorando sua capacidade de ser leve, flexível e gráfica. Os cortes a laser, uma das assinaturas da marca, aparecem com novas interpretações: desenhos que remetem aos jardins de Londres, às arquiteturas clássicas e até às pontas de lápis, transformando superfícies rígidas em telas fluidas de movimento.
O resultado é uma coleção que reafirma o couro como linguagem artística. Longe do estereótipo pesado, o material ganha leveza em vestidos curtos e longos, compondo uma narrativa visual que alterna entre o clássico e o futurista. É o encontro entre tradição e tecnologia, com a elegância que há décadas define o nome Patricia Viera.
Paleta de cores e inspirações britânicas
A cartela de cores do verão 2025 reforça o frescor da estação sem perder a sofisticação. Tons suaves de branco, baunilha, menta e azul céu criam a base das composições, enquanto os acentos de rosa chiclete, vermelho tomate e preto adicionam ritmo e contraste. As referências britânicas aparecem com sutileza: o espírito irreverente da moda de Mary Quant, traduzido nos “cílios” aplicados como detalhes decorativos no couro, e na beleza das modelos, que ecoava o estilo icônico dos anos 1960 londrinos.
As estampas florais, xadrezes e relevos a laser reforçam o equilíbrio entre a herança artesanal e a experimentação técnica, firmando o desfile como um dos mais consistentes desta edição do SPFW.
Trilha sonora e atmosfera poética
A trilha sonora ao vivo, conduzida pela cantora Dora Morelenbaum, transformou o desfile em uma performance emocional. A música foi o fio condutor de uma narrativa que celebrou o passado e o presente da marca. O tom suave e poético da trilha reforçou a proposta de leveza da coleção, criando uma conexão sensorial entre o público e as criações.
Enquanto Andrea Viera comandava os bastidores, Patricia acompanhou o desfile da primeira fila — um gesto simbólico de passagem de bastão, que emocionou quem acompanhava. No final, mãe e filha subiram juntas à passarela para receber os aplausos, em um momento que selou a continuidade da história da marca com autenticidade e afeto.
Sustentabilidade e artesania: o luxo do futuro
O conceito de luxo sustentável permeia toda a trajetória de Patricia Viera, e nesta coleção ele se reafirma com vigor. O uso consciente do couro, o reaproveitamento de materiais e a valorização do trabalho manual transformam o desfile em uma declaração ética e estética.
O projeto Zero Waste, a pesquisa com macramê artesanal e o desenvolvimento de novas texturas refletem um compromisso com a sustentabilidade que vai além do discurso. É uma proposta de moda que respeita o tempo, a matéria e o humano — valores fundamentais em uma era de produção acelerada e consumo descartável.
Nesse sentido, a marca se posiciona como referência internacional de moda regenerativa, mostrando que o Brasil pode produzir design de ponta sem abrir mão de suas raízes culturais e ambientais.
Patricia Viera no SPFW N60: um legado que se reinventa
A volta de Patricia Viera ao São Paulo Fashion Week N60 é simbólica. Seis anos após sua última participação, o retorno marca não apenas a continuidade de uma trajetória, mas a consolidação de uma nova fase. Sob o olhar de Andrea Viera, o desfile reafirma que a força da marca está na capacidade de transformar o couro em poesia, unindo técnica, emoção e propósito.
O Teatro Iguatemi, palco escolhido para a apresentação, reforçou essa dimensão teatral e emocional. O espaço, recém-inaugurado, serviu de moldura perfeita para uma coleção que é, ao mesmo tempo, íntima e universal.
O papel de Patricia Viera na moda brasileira
Desde os anos 1980, Patricia Viera é sinônimo de inovação artesanal e sofisticação atemporal. Sua contribuição para a moda brasileira vai além das passarelas: ela redefiniu a relação entre o artesanato e o luxo, abrindo espaço para um novo entendimento do design nacional.
Ao longo das décadas, sua marca consolidou uma estética própria — uma fusão entre arte, tecnologia e sustentabilidade, sempre mediada pela sensibilidade artesanal. A chegada de Andrea Viera à direção criativa apenas amplifica essa visão, apontando para um futuro onde tradição e modernidade coexistem em harmonia.
O verão 2025 é, portanto, um marco dessa trajetória: uma coleção que olha para o passado com respeito e para o futuro com esperança.
Quando moda é memória e transformação
O desfile de Patricia Viera no SPFW N60 foi mais do que uma apresentação de moda. Foi um manifesto sobre a permanência da beleza, a importância do gesto artesanal e o poder transformador da memória. Ao revisitar Londres e o início da carreira de Patricia, a marca celebra uma história que é, acima de tudo, humana — feita de mãos, de tempo e de amor ao ofício.
Com Andrea Viera à frente da criação, a grife prova que o futuro do couro — e da moda brasileira — está nas mãos de quem entende que sustentabilidade não é tendência, mas consciência.
